quarta-feira, 2 de abril de 2008

O Português como Língua Segunda e Estrangeira

A democratização do ensino em Portugal, a par da crescente mobilidade dos cidadãos no espaço europeu, implicou novas questões que necessitam de novas abordagens e soluções. Não mais vivemos numa sociedade em que todos são falantes nativos da língua portuguesa e em que todos conhecem os aspectos culturais a ela associados. Aliás, não basta ser-se falante nativo de uma língua para nela se ser fluente (pense-se nos dados relativos à (i)literacia ou mesmo nos exemplos de maus usos da língua com que quotidianamente somos confrontados), nem para se ser um portador consciente da cultura que a ela está associada, no que aos seus vários domínios se refere. É, portanto, inegável e evidente a relação íntima entre língua e cultura, tal como o é a presença de indivíduos, no mesmo espaço social de acção, pertencentes a grupos etno-culturais distintos. Torna-se, assim, urgente dar resposta às dificuldades sentidas por esses indivíduos que não têm a Língua Portuguesa como Língua Materna e que pretendem integrar-se na sociedade, enquanto cidadãos de pleno direito.
Para que essa resposta seja rápida e eficaz, concretizando a integração, tanto em relação à proficiência linguística de uma língua segunda, como ao domínio das referências socio-culturais do país de acolhimento, há que considerar, por um lado, no caso de indivíduos adultos, as suas necessidades imediatas, por outro, quando se trata de crianças e jovens em situação de aprendizagem escolar, as "ferramentas" necessárias e adequadas para a sua futura integração social e profissional. No caso destes últimos, cabe à escola, instituição, por excelência, responsável pela igualdade de oportunidades para todos os que a frequentam, a plena integração dos seus alunos, consciencializando-se e consciencializando-os da diversidade linguística e cultural que caracteriza o seu espaço.
Palco de vivências multiculturais, a escola, a par dos professores, sobretudo o de língua não-materna, deve proporcionar aos seus alunos oportunidades de experiências culturais variadas, construindo, assim, junto deles uma consciência intercultural que vise uma convivência baseada no respeito pela diferença, na cooperação e na solidariedade entre os indivíduos pertencentes a grupos étnicos e culturais diferentes. Deste modo, é função do educador, assim como da instituição a que pertence, promover o espírito de tolerância, desmistificando estereótipos culturais e atitudes preconceituosas face a grupos étnicos minoritários, promovendo actividades de intercâmbio cultural.
Para além de valores socio-culturais fundamentais, é função primordial do professor de língua não-materna atender às necessidades práticas dos seus alunos, aquando do processo de ensino-aprendizagem dessa mesma língua. O professor deve tomar em linha de conta o perfil dos seus alunos (idade, sexo, habilitações, profissão), assim como as suas motivações para a aprendizagem da língua segunda (percurso escolar, motivos profissionais, interesse pessoal).
O Quadro europeu comum de referência para as línguas consiste num documento que apresenta linhas orientadoras para o ensino e aprendizagem da língua estrangeira, baseado numa progressão de níveis performativos da língua, de acordo com os vários domínios linguísticos: compreensão oral, expressão oral, leitura, expressão escrita e interacção oral. Descreve diversas categorias situacionais em que o acto comunicativo ocorre, tendo em conta o domínio (público, privado, profissional, educativo) que o contextualiza.
É neste sentido que o professor tem de saber seleccionar os conteúdos e estratégias de aprendizagem adequados aos seus alunos, podendo apoiar-se nos diversos exemplos apresentados no documento. O professor deve ter uma linha de ensino, acima de tudo, pragmática, tentando responder às necessidades dos seus alunos, adequando, assim, actividades e materiais que vão ao encontro dos interesses e motivações dos mesmos, tentando colmatar as lacunas linguísticas e culturais que estes apresentem.

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Referências Bibliográficas para a Aprendizagem do Português como Língua Segunda e Estrangeira

  • Aprender Português - Nível A1/A2, Carla Oliveira, Maria José Ballman e Maria Luísa Coelho, Texto Editora, 2006.
  • Aprender Português 2 - Nível B1, Carla Oliveira e Maria Luísa Coelho, Texto Editora, 2007.
  • Exercícios e Notas Gramaticais, Helena Bárbara Marques Dias, Edições Colibri, 1995.
  • Gramática Aplicada - Português Língua Estrangeira, Carla Oliveira e Maria Luísa Coelho, Texto Editora, 2007.
  • Português Ao Vivo - Nível 1, Marília Margareth Cascalho, Lidel, 2002.
  • Português Ao Vivo - Nível 2, Maria da Conceição Pinheiro, Lidel, 2003.
  • Português Ao Vivo - Nível 3, Hermínia Malcata, Lidel, 2003.
  • Rumo ao Português no Mundo - Exercícios, Isabel Abranches e Yolanda Gonçalves, Plátano Editora, 1992.
  • Rumo ao Português no Mundo, Isabel Abranches e Yolanda Gonçalves, Plátano Editora, 1992.
  • Vamos Aprender Português 1, José Dias da Silva, Maria Manuela Cavaleiro Miranda e Maria Manuela Granés Gonçalves, Plátano Editora, 1995.
  • Vamos Aprender Português 2, José Dias da Silva, Maria Manuela Cavaleiro Miranda e Maria Manuela Granés Gonçalves, Plátano Editora, 1995.